Torres - Vila Alpina (Cemitério São Pedro)

Desde o início deste projeto, a verticalização dos jazigos sempre foi mais do que uma resposta à limitação espacial — era uma oportunidade de repensar como lidamos com a arquitetura da memória. Ao visitar o local nesta fase da obra, sinto que cada bloco de concreto assentado carrega consigo não apenas estrutura, mas também simbologia. Os jazigos verticais, com seus sete metros de altura, começam a se erguer como sentinelas silenciosas no terreno. Há algo de sereno e imponente nessas formas que rompem o horizonte.

As sombras projetadas ao longo do dia já delineiam como a luz natural interagirá com cada face dessas estruturas.

Tenho imaginado a paisagem se moldando ao redor: não um jardim impositivo, mas sim uma vegetação que suaviza, que acolhe. Vejo espécies de baixa manutenção, resistentes ao sol direto, desenhando caminhos entre os blocos verticais. Penso em pequenos bosques de respiro entre os núcleos, onde bancos de madeira e aço corten possam convidar à pausa. A textura do pergolado que projetei — ainda por vir — deverá dialogar com os revestimentos dos jazigos, criando uma unidade visual que abrace quem ali chega em silêncio.

A arquitetura funerária, para mim, deve respeitar tanto a dor quanto a memória. E é por isso que, enquanto caminho pelo canteiro de obras, não vejo apenas alvenaria — vejo um espaço de contemplação se formando. Ainda virão os detalhes: o mobiliário urbano, as lixeiras com acabamento amadeirado, a iluminação sutil embutida no paisagismo... Mas tudo isso é apenas a continuidade daquilo que já começou a ser narrado com esses volumes verticais. A história está sendo construída com blocos e raízes. E eu, como arquiteta, sou apenas a intérprete entre a matéria e o silêncio."

Jeniffer Sâmua
Arquiteta Urbanista